sábado, 16 de abril de 2011

Bixudipé escreve, a caneta ou a lápis, o que quer!

Maldita caneta
Maldita seja a caneta! E tenho dito.
Maldita seja essa vilã cruel, que oprime os que desejam voltar atrás, que impede os homens, limitados homens, de apagar o que foi escrito, reescrever o que já foi dito. Maldita seja a impossibilidade de voltar atrás, de mudar o que já está no papel. A caneta, como a vida, é insensível e inflexível, e não perdoa os erros cometidos.
Olho pra ela e vejo a figura de uma madrasta má, daquelas dos contos de fada, tirana, rígida e incapaz de entender o significado do arrependimento. Particularmente, sempre preferi o lápis. Este, sim, brinca no papel como um menino no quintal de casa, sem grandes preocupações. Pode passear pelo papel, sem o medo de não poder errar. Já a caneta parece estar sempre indo pro trabalho, sempre num ritmo sério e concentrado.
A caneta e sua rigidez não combinam com o poeta. Ele, que tem alma de menino, que tem a liberdade correndo em seu sangue, não pode ter nas mãos uma madrasta má. Precisa saber que pode desmanchar, desmanchar e desmanchar, sempre que necessário for.
O lápis tem a suavidade que a vida deveria ter. Sobre aquela, penso que deveria ser mais lápis, e muito menos caneta. Ao lápis, um viva! Para a caneta, minha repulsa.
Maycon Saiter - Cachoeiro de Itapemirim, 13 de Abril de 2011.
  
Frágil lápis
Aponte-me o lápis que nunca foi apontado e escreve o que não se pode apagar.
Pobre do lápis. Refém da borracha. Não importa o quão revolucionário ou excelente este produziu; com uma surra ziguezagueante tudo se fora. E quando permitem que permaneça o que escreveu, ele não vive por muito tempo para desfrutar da vitória; assim como o tempo é para cada um em sua vida o início e fim, o apontador é o início e fim do lápis.
Vejo o lápis, portanto, até com simpatia, como um menino inocente que brinca com seu amigo papel. Mas, na vida, as decisões são tomadas pelos homens. Sendo assim, traga-me uma caneta! Quero proteção. Não que esta seja indestrutível, mas não é frágil como o lápis. Tatua no papel o seu desejo e guarda por tempo gigantesco sua marca. A caneta não é imortal, mas, com uma ou duas recargas, pode chegar à maioridade.
Como diz o provérbio chinês, “... uma palavra dita, jamais volta atrás”. Não adianta o lápis tentar esconder o que já “disse”. Mas entendo sua fragilidade. Ainda é um, ou para um, aprendiz. Quando possuir segurança e credibilidade, vestirá uma armadura e tatuara, com tinta, na epiderme da celulose, suas marcas.
Ao lápis, um puxão de orelha pela radicalidade de sua adolescência permanente. À caneta, meu agradecimento por estar sempre presente - aquela mesma que se esconde atrás da orelha ou no bolso de um paletó. Menino lápis, saia da bolsinha escolar e venha viver como um homem.
Rodrigo Davel – Cachoeiro de Itapemirim, 16 de Abril de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

Poema simples, fácil e rápido

Digo o simples, para ser rápido.
Gosto do fácil, por ser simples.
Faço rápido quando é fácil,
Só digo que é simples o que, rápido, eu acho fácil.


E fácil, é simples, tem de ser rápido.
Quando vejo que foi rápido tenho logo certeza que é fácil; simples assim.


Porém, olha bem o que digo. Vou ser rápido e, tenho certeza, será fácil pra entender:
Difícil é falar do amor;
Demora pra nascer. É difícil pra conter.
Simples, viu?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.


Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.


O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.


O bicho, meu Deus, era um homem.
Manuel Bandeira
Rio, 27 de dezembro de 1947