domingo, 28 de outubro de 2012

Nosso Cânone Literário - Arcadismo


O Barroco foi de suma importância à literatura, nem é preciso dizer que à vida, né?, mas, foi preciso 
surgir o Arcadismo, e este surgiu a priori para combater ao Barroco, para dar equilíbrio ao fazer literário. Afinal, o Barroco nunca deixou de existir.

Casa No Campo - Elis Regina

70 X 7
Os árcades eram, e ainda são, fiéis pessoanos¹ – ao menos no que se referem ao fingimento, ao poeta ser um fingidor. Toda aquela ladainha e cantilena de lócus amoenus, carpe diem e fugere urbem não era mais que burgueses ambiciosos almejando o lugar privilegiado do clero e da nobreza. Assim se constitui o Setecentismo no Brasil, ou pseudonimamente aclamado como Neoclassicismo – uma boa pedida ao paganismo. Por conseguinte, o convencionamento amoroso era isca aos mais inocentes e poéticos – todavia, isso cresceu e veio formar o Romantismo, com toda a sua subjetividade e idealização amorosa, bem árcade, não é? Agora, não é que nos deparamos com pseudo-árcades em campanha política em pleno Século XXI (nativistas políticos, falsos inconfidentes e nacionalistas da mídia). Ainda bem que temos a literatura para nos mostrar quem é quem...
Pois é, os árcades do Século XVIII tinham como bandeira combater o exagero barroco. A partir dos ensinamentos do deus Pã, e da exaltação de Arcádia, com o singelo e belo intuito de harmonizar homem e natureza, uma contradição ao momento histórico vivido pela sociedade contemporânea a eles. Esta que era enojada pelos bucólicos árcades, contrariamente composta, também, por eles. Tudo muito político e fingido(!). Afinal, não se tem notícia de êxodo rural significativo nesse, nem em qualquer outro período posterior por intelectuais ou burguesia. O máximo que se pode afirmar é a idealização intrínseca do homem urbano em manter uma opção de descontaminação urbana – vulgo sítio, chácara, fazenda etc. Quatro séculos depois, pois, os anseios árcades ganham força novamente, com particularidades moderno-virtuais, e repetem o mesmo fingimento e a mesma ambição arcaica: 'convencionamento amoroso VS relacionamento virtual'; 'carpe diem VS redes sociais'; 'lócus amoenus VS shoppings'; e, principalmente, 'harmonia homem e natureza VS barroquismo/rococó²&futilidade moderno-consumista'. Na epiderme da intenção, o que buscam é a ascensão, igualar-se socialmente, talvez trocar de posição. São todos – desculpe-me, leitor, a generalização? É que tenho grande apreço pela hipérbole – Chico’s Mendes³ paraguaios...
Literariamente julgando – com a licença poética pagã árcade – o Arcadismo trouxe o benefício do equilíbrio social. Afinal, o Barroco é lindo, mas não deixa de ser exagerado(!). E teve uma adaptação imediata aos anseios desta colônia, hoje país subdesenvolvido em plena ascensão(?), devido a sua gigantesca extensão campestre e de desigualdade social. Sociologicamente avaliando, os árcades exercem forte influência na ideologia de ONGs, ecologistas e políticos; mas, puro fingimento poético-prosaico: o fugere urbem é prática raríssima, digna de matéria no Fantástico, reportagem especial no Globo Repórter e/ou Profissão Repórter. Assim, também estão movimentos hippies e sociedades alternativas, todos em trabalho, militância e desfrute do meio-urbano. Porém, a forte marca estética realista incorporada pelos árcades do Século XXI enfeia o movimento e traz um tom apelativo desnecessário. Entretanto, preparemo-nos, o Romantismo moderno está saindo do forno com toda sua subjetividade – graças à velocíssima linguagem virtual, à idealização do amor – sempre perfeito e eterno em redes sociais, ao sofrimento amoroso (fruto do distanciamento, já que computadores e similares não dispõem de mecanismos de contato, ainda) e ao ufanismo retratado em imagens e vídeos divulgando os prazeres nacionais. Isso é literatura: a eterna retomada da vida. Salve Tiradentes!

1 - Referência ao poema  Autopsicografia, de Fernando Pessoa;
2 - "Barroco", uma palavra portuguesa que significava "pérola irregular, com altibaixos", passou bem mais tarde a ser utilizada como termo desfavorável para designar certas tendências da arte seiscentista. Hoje, entende-se por estilo barroco uma orientação artística que surgiu em Roma na virada para o século XVII, constituindo até certo ponto uma reação ao artificialismo maneirista do século anterior. O novo estilo estava comprometido com a emoção genuína e, ao mesmo tempo, com a ornamentação vivaz.
O drama humano tornou-se elemento básico na pintura barroca e era em geral encenado com gestos teatrais muitíssimo expressivos, sendo iluminado por um extraodinário claro-escuro e caracterizado por fortes combinações cromáticas.
O estilo rococó desenvolveu-se como sucessor do barroco numa ampla gama de manifestações artísticas, entre as quais se incluíam a arquitetura, a música e a literatura, assim como a pintura. Ele enfatizava a leveza, a decoração e o refinamento estilístico. Originando-se em Paris no início do século XVIII, o rococó não demorou a difundir-se para o resto da Europa.
3 - Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, é natural de Xapuri foi seringueiro, sindicalista, ativista ambiental e ultrarrevolucionário pela vida da Terra.




quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Nosso Cânone Literário - Barroco


Espírito Santo
Nestas terras capixabas existem de quase tudo um pouco, barrocas terras, não? Pena que a arquitetura tome partido nulo nisso tudo. Ah!, mas as igrejas até que são bem barroquinhas, ou, como dizem por aqui, vivem embarrocadas. Será que os vocábulos são parentes? Ou barrocos? Num sei, não, seu moço. Sei é que pessoa direita deve é de escutar a igreja, não perguntar. É!, boa mecenas és tu, ó mãe divina.
Pois então, o ouro é das Minas, a cana dos paulistas, a capital em Salvador, O Rio ainda não é lindo, mas é cultural – e pra que resolveu mudar de adjetivo, né? Os holandeses só pra lá de Pernambuco se interessaram, os gaúchos têm uma crista... Mas, idaí? E a gente? Capixaba é assim mesmo, seu moço! Todo mundo vem, todo mundo é. O jeito é continuar a cantar a vida nas falas. Sabe que não tem pra onde correr. Vão bora pro mar? Lusofobia!
Mas, quer melhor terra pra viver que essa? Faz o que quiser, pro lado que tiver. Vai pra Europa, vai pro Rio; dorme na Bahia, acorda nas Minas; esconde em São Paulo; avizinha-se aos Gaúchos. E o Norte? Lá é terra de romântico, bem indianista. E aqui, é terra de quê? Do povo brasileiro. Barroco, mas não rococó, porque capixaba não nasce pra exagero; capixaba nasce pra ser do meio.
Ô terrinha mais ou menos, hein, seu moço? É terra boa, meu amigo! Terra que lhe dá escolha. É terra barroca. Sabe, agora já vou indo, seu moço. Vou voltar pro meu Sertão. É que lá não tem fronteira, mas tem uma visão... Pode deixar que não fico sozinho, Paraíba. Há sempre alguém chegando nessas terras que Deus quis assim e o homem chamou Espírito Santo. Sozinho nunca, esquecido até quando?
Rodrigo Davel, setembro de 2012

Pintura barroca de Rubens: o diálogo entre a igreja católica e os fiéis

Barroco Brasileiro
Histórico
O estilo barroco chega ao Brasil pelas mãos dos colonizadores, sobretudo portugueses, leigos e religiosos. Seu desenvolvimento pleno se dá no século XVIII, 100 anos após o surgimento do Barroco na Europa, estendendo-se até as duas primeiras décadas do século XIX. Como estilo, constitui um amálgama de diversas tendências barrocas, tanto portuguesas quanto francesas, italianas e espanholas. Tal mistura é acentuada nas oficinas laicas, multiplicadas no decorrer do século, em que mestres portugueses se unem aos filhos de europeus nascidos no Brasil e seus descendentes caboclos e mulatos para realizar algumas das mais belas obras do Barroco brasileiro. Pode-se dizer que o amálgama de elementos populares e eruditos produzido nas confrarias artesanais ajuda a rejuvenescer entre nós diversos estilos, ressuscitando, por exemplo, formas do gótico tardio alemão na obra de Aleijadinho (1730-1814). O movimento atinge o auge artístico a partir de 1760, principalmente com a variação rococó do barroco mineiro.
Durante o século XVII a Igreja teve um importante papel como mecenas na arte colonial. As diversas ordens religiosas (beneditinos, carmelitas, franciscanos e jesuítas) que se instalam no Brasil desde meados do século XVI desenvolvem uma arquitetura religiosa sóbria e muitas vezes monumental, com fachadas e plantas retilíneas de grande simplicidade ornamental, bem ao gosto maneirista europeu. É somente quando as associações leigas (confrarias, irmandades e ordens terceiras) tomam a dianteira no patrocínio da produção artística no século XVIII, momento em que as ordens religiosas veem seu poder enfraquecido, que o Barroco se frutifica em escolas regionais, sobretudo no Nordeste e Sudeste do país. Contudo a primeira manifestação de traços barrocos, se bem que misturado ao estilo gótico e românico, pode ser encontrada na arte missionária dos Sete Povos das Missões na região da Bacia do Prata. Ali se desenvolveu, durante um século e meio, um processo de síntese artística pelas mãos dos índios guaranis com base em modelos europeus ensinados pelos padres missionários. As construções desses povos foram quase totalmente destruídas. As ruínas mais importantes são as da missão de São Miguel, no Estado do Rio Grande do Sul.
As primeiras manifestações do espírito barroco no resto do país estão presentes em fachadas e frontões, mas principalmente na decoração de algumas igrejas, também em meados do século XVII. A talha barroca dourada em ouro, de estilo português, espalha-se pela Igreja e Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, construída entre 1633 e 1691. Os motivos folheares, a multidão de anjinhos e pássaros, a figura dinâmica da Virgem no retábulo-mor, projetam um ambiente barroco no interior de uma arquitetura clássica. A vegetação barroca é introduzida na Bahia no fim do séc. XVII na decoração, por exemplo, da antiga Igreja dos Jesuítas, atual Igreja Catedral Basílica, cuja construção da capela-mor, com seus cachos de uva, pássaros, flores tropicais e anjos-meninos, data de 1665-1670. No Recife destaca-se a chamada Capela Dourada ou Capela dos Noviços da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, idealizada no apogeu econômico de Pernambuco, em 1696, e finalizada em 1724.
Entre os anos de 1700 e 1730 uma vegetação de pedra esculpida tende a se espalhar nas fachadas, como imitação dos retábulos, seguindo a lógica da ornamentação barroca. Em 1703 o dinamismo conquista o exterior pela primeira vez de forma ostensiva na fachada em estilo plateresco da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, em Salvador. No entanto, vale notar que tal exuberância representa uma exceção no Barroco brasileiro, pois mesmo em seu período áureo as igrejas barrocas nacionais, tal como as portuguesas, são marcadas por um contraste entre a relativa simplicidade de seus exteriores e as ricas decorações interiores, simbolizando dessa forma a virtude do recolhimento, requisito necessário à alma cristã. Esses primeiros 30 anos marcam a difusão no Brasil do estilo "nacional português", sem grandes variações nas diversas regiões .
Surge então um novo ciclo de desenvolvimento do Barroco entre meados de 1730 e 1760, com predominância do estilo português "joanino", cuja origem remonta ao Barroco romano. Há uma significativa barroquização da arquitetura com a construção de naves poligonais e plantas em elipses entrelaçadas. Destaca-se no período, com ressonâncias posteriores, a atuação dos artistas portugueses Manuel de Brito e Francisco Xavier de Brito.
Nota-se que, em meados do século XVIII, a perda da força econômica e política inicia um período de certa estagnação no Nordeste, com exceção de Pernambuco, que conhece o estilo rococó na segunda metade do século. O foco volta-se para o Rio de Janeiro, transformada em capital da colônia em 1763, e a região de Minas Gerais, desenvolvida à custa da descoberta de minas de ouro (1695) e diamante (1730). Não por acaso, dois dos maiores artistas barrocos brasileiros trabalham exatamente nesse período: Mestre Valentim (1745-1813), no Rio de Janeiro, e o Aleijadinho, em Ouro Preto e adjacências.
É na suavidade do estilo rococó mineiro (a partir de 1760) que se encontra a expressão mais original do Barroco brasileiro. A extrema religiosidade popular, sob o patrocínio exclusivo das associações laicas, se expressa em um espírito contido e elegante, gerando templos harmônicos e dinâmicos de arquitetura em planos circulares, com graciosa decoração em pedra-sabão. As construções monumentais são definitivamente substituídas por templos intimistas de dimensões singelas e decoração requintada, mais apropriados à espiritualidade e às condições materiais do povo da região.
Um dos exemplos mais bem-acabados desse estilo pode ser contemplado na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Penitência (1767), cujo risco, frontispício, retábulos laterais e do altar-mor, púlpitos e lavabo são de autoria de Aleijadinho. A pintura ilusionista do teto da nave (1802) é de um dos mais talentosos pintores barrocos, Manoel da Costa Athaide (1762-1830). Destaca-se ainda a parceria dos dois artistas nas esculturas de madeira policromada (1796-1799) representando os Passos da Paixão de Cristo para o Santuário do Bom Jesus dos Matozinhos, em Congonhas do Campo. No adro desse santuário, Aleijadinho deixa o testemunho mais eloquente de seu talento artístico: seus 12 Profetas de pedra-sabão (1800-1805).
No Rio de Janeiro a presença lusitana se faz sentir mais fortemente. Distingue-se das outras cidades pela tendência à sobriedade neoclássica, reforçada pelas influências no Brasil da reforma pombalina. Na arte civil (por exemplo: Passeio Público, de 1779-1785 e Chafariz da Pirâmide, de 1789) e sacra de Mestre Valentim o perfeito equilíbrio entre os postulados racionais do Classicismo, a dinâmica e grandiloquência do Barroco e um certo sentido de preciosismo e delicadeza da estética rococó, sintetiza brilhantemente o espírito da arte carioca da segunda metade do século XVIII.



segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Nosso Cânone Literário - Quinhentismo


Quinhentismo
Quinhentismo é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, no momento em que a cultura europeia foi introduzida no país. Note que, nesse período, ainda não se trata de literatura genuinamente brasileira, a qual revele visão do homem brasileiro. Trata-se de uma literatura ocorrida no Brasil, ligada ao Brasil, mas que denota a visão, as ambições e as intenções do homem europeu mercantilista em busca de novas terras e riquezas. As manifestações ocorridas se prenderam, basicamente, à descrição da terra e do índio, ou a textos escritos pelos viajantes, jesuítas e missionários que aqui estiveram.

Carta ao Leitor, Rei de minha escrita, sobre nosso início literário
Caro Leitor, não começamos bem! A julgar pela visão baseada na alteridade europeia. Somos, ou éramos, frutos da terra, não a mãe gentil – posteriormente impregnada em nossas raízes por transfusão sanguínea forçada. É bem verdade, tenho que assumir, pois a verdade é meu norte para este relato, que de literário não tínhamos nada. Mas, mesmo assim, ainda me pergunto, será? Afinal, o que é literatura (?) senão manifestação artística, que tem por finalidade recriar a realidade a partir da visão de determinado autor (o artista), com base em seus sentimentos, seus pontos de vista e suas técnicas narrativas (Nicola, 1998). E se ‘isso’ é mesmo a literatura, nossos índios – como fomos batizados sem prévio conhecimento – possuíam, sim, literatura na epiderme de sua pele, e em sua cultura. Todavia, não cabe a mim, agora, questionar o valor literário das manifestações culturais de nossos antepassados quinhentistas; tenho o dever, apenas, de relatar nossa visão contemporânea acerca do nascimento de nossa veia literária.
Demonstro, inicialmente, o retrocesso imposto na cultura, desta terra recém-achada/descoberta/tomada, pela literatura e sua visão teocêntrica europeia, já em divergências reformativas da igreja. Em um mundo desconhecido, utopia de Éden, onde Maísa tinha muito valor e de Cristo não se ouvia falar, portugueses sedentos por sabores apimentados e aromas fortes de cravo e canela, made in Índia, desembarcaram e não quiseram mais voltar. Pra lá dos 220 volts foi o choque cultural. ‘Que saradas, avermelhadas e cheirosas índias. Tão diferentes das portuguesas pálidas, gélidas e acorrentadas pela fé romana’. Sim!, Este foi o provável pensamento másculo do português malicioso, ambicioso e tendencioso. Dos brasis queriam ouro, terra e mulher(es). E assim foi feita nossa primeira propaganda e identidade: selvagem cordial, mulher ideal, terra do bacanal. Se a literatura é a visão do autor recriando a realidade, caminhamos para a promiscuidade a galopes.
Entretanto, se a literatura ao recriar a realidade tem por finalidade intervir, assim fizeram os Jesuítas, posteriormente, dando equilíbrio sexual à nossa literatura, ao nosso construir identitário literário. Porém, a preocupação não ultrapassava as margens da colonização/extração/escravidão. E nossa literatura nasceu feia, sem pai definido e com muitos pretendentes a padrastos - é que a mãe sempre foi muito bonita(!).
Já me aproximo do fim de meu relato, caro Leitor, não que não queira falar mais ou que não necessite, de maneira alguma, pois, as raízes alimentam as flores e frutos – mas isso ainda vai demorar mais de quatro séculos. Porém, o nascimento foi sem pompas, demorou-se mais de 30 anos para o reconhecimento em ‘vias de fato’ da paternidade, e, até lá, a criança não recebeu boa educação; até comia três ou quatro letras do alfabeto. Dizem os Jesuítas, que chegaram após o reconhecimento da paternidade e vieram com o intuito de alfabetizar, que faltavam apenas três: L, R e F (lei, rei e fé). Mas, aposto que também não conhecia o B de brasilidade.
Cumprindo, portanto, o meu dever de servo de El-Rei Leitor de bixudipé, afirmo ser verdade tudo que aqui relato, tendo como testemunhas muitos viajantes de nossa língua e história, e confirmo que a literatura já está em nossas mãos. Assim, peço humildemente, caro Leitor, que esforço seja feito na tentativa de dominarmos por total essa terra de todos nós para que possamos enriquecer nossa família e nossa pátria. Sem medo de estar sob alucinações, encerro meu relato certificando que o descobrimento dessa parte do mundo pode nos fazer grandes e reconhecidamente brilhantes em todo o mundo, que se curva diante de nós, leitores.

 Rodrigo Davel, 06 de agosto de 2012.


João Batista (de La Salle)
Batizai-nos com Machado;
Depois vem Queiroz.
Dai prioridade a Lobato;
O B que falta esta em nós.

Eça, Pessoa e Saramago
Até que são bacanas,
Mas, Alencar, Drummond e Dourado
São nossa nirvana.

Demoramos quase meio século
E só em 22 gritamos a liberdade
Reconheço que teve grande eco
Mas, será que foi de verdade?

Não precisamos nos afrancesar
A Europa é o velho!
Eles que precisam se abrasileirar;
Esqueça todo aquele evangelho!
Rodrigo Davel, agosto de 2012



sexta-feira, 15 de junho de 2012

Então, Pedro, até setenta vezes sete


Perdoe-me se não o perdoei (?). É que sou contaminado pelo tempo em que estamos, que nos adoece. Qual é o limite do mocinho? Então, quando se é, pois, vilão? Nosso tempo, leitor, não nos deixa opção: somos mocinhos e somos vilões. E quem decide não é você! Outros decidem. Portanto, julgue-me vilão, se for o caso, mas não diga que sou mocinho. Não sou mesmo! E nem ligo para isso, porque você também não o é. Somos aquilo que podemos ser e aquilo que em nós querem ver.
Permita-me, então, discorrer ‘sobre’. Porém, poupo-o dos exemplos-clichês. Não é que eu esteja julgando o (mau) caráter de ninguém. Também não absolvo. Mas percebemos em nosso tempo o prazer da disputa, não necessariamente da conquista. Pois sempre há uma nova disputa por alguma coisa qualquer. E exatamente por isso, prefiro crer em mocinhos desvirtuados a crer em vilões sossegados. Porém, não afirmo ser inato a ninguém o mau-caratismo. Também não reforço a ideia behaviorista, porque sou, pois, adepto da corrente interacionista, ou construcionista, de Piaget ¹: “Somos tábulas rasas”(?)² que a vida trata de encher, além de ‘construir’ a refeição que serviremos aos próximos. Quando, destarte, um mocinho permitir-se maldar, deixará de ser mocinho.
Acontece que, a cada dia, vejo os mocinhos com os quais convivo mostrarem garras “ala Wolverine”: fazem o bem, desde que não sejam incomodados. O melhor amigo pode ser também inimigo. Eis o melhor molde para nosso tempo. Estamos nos Wolverizando a cada dia, a cada escolha, a cada rancor não tratado. Exibimos o orgulho de sermos heróis e termos garras poderosas para o ataque ao inimigo. Definimos o inimigo pelo potencial de disputa, o mesmo que, antes, nos unia.
O papel do mocinho sempre foi defender-se (defender-nos), não é? Então, afinal, o que há conosco? E o amor ao próximo, ao irmão, onde está? Os mocinhos estão recorrendo a Eclesiastes logo cedo, às 7h20. Já acordam com a máxima: Olho por olho, dente por dente. Em um momento de mocinho, sinto-me pequeno, fraco, um “moço-inho”. Ah! Mas ser vilão é bem mais ão: é ser mandão, sentir-se grandão, ser campeão, o espertão... é ter solução. Entretanto, semelhante leitor, o mocinho é quem faz uso do ão mais forte e valioso. O mocinho vive com o coração. E isso, mocinho, não está em disputa. Portanto, vilão, destrua meu caminho, mas nunca vencerá meu coração.
Assim, indago-me constantemente: sujeito, quem encheu sua tábula com tanta porcaria? Agora, por que serve isso aos próximos? Afinal, a interação não é somente explicita. Talvez seja muito maior a responsabilidade da interação implícita. Ao atingirmos a maturidade necessária para distinguirmos o joio do trigo, transferimos ao ego a responsabilidade das decisões. Ou seja, por mais lixeira que tenha sido cada tábula, sempre é tempo de limpeza, reciclagem e reformulação. Então, tudo bem (!) se suas influências não foram adequadas, ou as melhores. No entanto, continuar na lama é opcional.  “Certidão de nascimento não é atestado de ignorância”³.
Sendo assim, o mal de nosso tempo é agudo, mas ainda não é crônico. Juntemos as forças, mocinhos, e tratemos os vilões em nós. Mas não sugiro a utopia de medicarmos uns aos outros. Não! Cada mocinho com sua patologia, até porque adoecemos simplesmente e ninguém pode diagnosticar a mazela por antecedência. E, assim, e somente após, perdoe-me. Pois já terei também perdoado a todos.

Rodrigo Davel, 04 de outubro de 2012. 

1 - Piaget formula o conceito de epigênese, argumentando que "o conhecimento não procede nem da experiência única dos objetos nem de uma programação inata pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas". (Piaget, 1976, apud Freitas 2000:64)
2 - O filósofo inglês John Locke (1632-1704), considerado o protagonista do empirismo, foi quem esboçou a teoria da tábula rasa (literalmente ardósia em branco em português). Para Locke, todas as pessoas, ao nascerem, fazem-no sem saber de absolutamente nada, sem impressão nenhuma, sem conhecimento algum. Então, todo o processo do conhecer, do saber e do agir é aprendido pela experiência, pela tentativa e pelo erro.
3 - A expressão “certidão de nascimento não é atestado de ignorância” é de autoria do professor Fábio Brito, que ainda costuma completar a frase com outra expressão, mas na forma denotativa: “Não nasci na Idade Média. No entanto, dou aula sobre Trovadorismo”.


quarta-feira, 16 de maio de 2012

O partir

Um dia, de repente,
Arrastam-nos a força
Para um lugar incerto.

Um dia, de repente,
Desnudam-nos impudica/
Mente.

Um dia, de repente,
Somos apenas ser vivo:
Verme ou gente.

RodrigoDavel, 16 de maio de 2012

sexta-feira, 30 de março de 2012

Haicai e Limerique

Come, bebe e dorme. 
Porque, quem não faz morre!
Ou você duvida?

Ó morte cega, surda e muda.
Mas ela sempre será justa.
Da vida debocha,
Fria como rocha.
Hum!, essa dama nunca ajuda!

Rodrigo Davel, 30 de Março de 2012

terça-feira, 13 de março de 2012

Biografia da Terra de Vera Cruz

Aborto de Édipo:
Confundido com Lemúria.
Esquecido por Diana,
Desconhecido por Dionísio.

Simulacro de Górgona,
Degredados de Lilith;
Proclamados descendentes de Eva.
                                                                                     
Depósito dos pertences de Pandora.

Druídas amigos dos Jesuítas!
A Companhia, que crucifica e adora,
Celebrou o matrimônio
De Jasão e Medéia;
Filhos de Ossain e Bekororoti.
RodrigoDavel, 13 de março de 2012