segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Nosso Cânone Literário - Quinhentismo


Quinhentismo
Quinhentismo é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, no momento em que a cultura europeia foi introduzida no país. Note que, nesse período, ainda não se trata de literatura genuinamente brasileira, a qual revele visão do homem brasileiro. Trata-se de uma literatura ocorrida no Brasil, ligada ao Brasil, mas que denota a visão, as ambições e as intenções do homem europeu mercantilista em busca de novas terras e riquezas. As manifestações ocorridas se prenderam, basicamente, à descrição da terra e do índio, ou a textos escritos pelos viajantes, jesuítas e missionários que aqui estiveram.

Carta ao Leitor, Rei de minha escrita, sobre nosso início literário
Caro Leitor, não começamos bem! A julgar pela visão baseada na alteridade europeia. Somos, ou éramos, frutos da terra, não a mãe gentil – posteriormente impregnada em nossas raízes por transfusão sanguínea forçada. É bem verdade, tenho que assumir, pois a verdade é meu norte para este relato, que de literário não tínhamos nada. Mas, mesmo assim, ainda me pergunto, será? Afinal, o que é literatura (?) senão manifestação artística, que tem por finalidade recriar a realidade a partir da visão de determinado autor (o artista), com base em seus sentimentos, seus pontos de vista e suas técnicas narrativas (Nicola, 1998). E se ‘isso’ é mesmo a literatura, nossos índios – como fomos batizados sem prévio conhecimento – possuíam, sim, literatura na epiderme de sua pele, e em sua cultura. Todavia, não cabe a mim, agora, questionar o valor literário das manifestações culturais de nossos antepassados quinhentistas; tenho o dever, apenas, de relatar nossa visão contemporânea acerca do nascimento de nossa veia literária.
Demonstro, inicialmente, o retrocesso imposto na cultura, desta terra recém-achada/descoberta/tomada, pela literatura e sua visão teocêntrica europeia, já em divergências reformativas da igreja. Em um mundo desconhecido, utopia de Éden, onde Maísa tinha muito valor e de Cristo não se ouvia falar, portugueses sedentos por sabores apimentados e aromas fortes de cravo e canela, made in Índia, desembarcaram e não quiseram mais voltar. Pra lá dos 220 volts foi o choque cultural. ‘Que saradas, avermelhadas e cheirosas índias. Tão diferentes das portuguesas pálidas, gélidas e acorrentadas pela fé romana’. Sim!, Este foi o provável pensamento másculo do português malicioso, ambicioso e tendencioso. Dos brasis queriam ouro, terra e mulher(es). E assim foi feita nossa primeira propaganda e identidade: selvagem cordial, mulher ideal, terra do bacanal. Se a literatura é a visão do autor recriando a realidade, caminhamos para a promiscuidade a galopes.
Entretanto, se a literatura ao recriar a realidade tem por finalidade intervir, assim fizeram os Jesuítas, posteriormente, dando equilíbrio sexual à nossa literatura, ao nosso construir identitário literário. Porém, a preocupação não ultrapassava as margens da colonização/extração/escravidão. E nossa literatura nasceu feia, sem pai definido e com muitos pretendentes a padrastos - é que a mãe sempre foi muito bonita(!).
Já me aproximo do fim de meu relato, caro Leitor, não que não queira falar mais ou que não necessite, de maneira alguma, pois, as raízes alimentam as flores e frutos – mas isso ainda vai demorar mais de quatro séculos. Porém, o nascimento foi sem pompas, demorou-se mais de 30 anos para o reconhecimento em ‘vias de fato’ da paternidade, e, até lá, a criança não recebeu boa educação; até comia três ou quatro letras do alfabeto. Dizem os Jesuítas, que chegaram após o reconhecimento da paternidade e vieram com o intuito de alfabetizar, que faltavam apenas três: L, R e F (lei, rei e fé). Mas, aposto que também não conhecia o B de brasilidade.
Cumprindo, portanto, o meu dever de servo de El-Rei Leitor de bixudipé, afirmo ser verdade tudo que aqui relato, tendo como testemunhas muitos viajantes de nossa língua e história, e confirmo que a literatura já está em nossas mãos. Assim, peço humildemente, caro Leitor, que esforço seja feito na tentativa de dominarmos por total essa terra de todos nós para que possamos enriquecer nossa família e nossa pátria. Sem medo de estar sob alucinações, encerro meu relato certificando que o descobrimento dessa parte do mundo pode nos fazer grandes e reconhecidamente brilhantes em todo o mundo, que se curva diante de nós, leitores.

 Rodrigo Davel, 06 de agosto de 2012.


João Batista (de La Salle)
Batizai-nos com Machado;
Depois vem Queiroz.
Dai prioridade a Lobato;
O B que falta esta em nós.

Eça, Pessoa e Saramago
Até que são bacanas,
Mas, Alencar, Drummond e Dourado
São nossa nirvana.

Demoramos quase meio século
E só em 22 gritamos a liberdade
Reconheço que teve grande eco
Mas, será que foi de verdade?

Não precisamos nos afrancesar
A Europa é o velho!
Eles que precisam se abrasileirar;
Esqueça todo aquele evangelho!
Rodrigo Davel, agosto de 2012