terça-feira, 1 de abril de 2014

Nosso Cânone Literário - Realismo

O Realismo/Naturalismo foi uma escola literária de domínio narrativo no fim do século XIX e início do século XX. Apesar de serem um mesmo movimento literário, o Realismo e o Naturalismo têm diferenças já no cerne: enquanto este é marcado, principalmente, pela corrente filosófica e científica do Determinismo; aquele é extremamente Positivista e Socialista.
No Brasil, especificamente, juntos a todo o contexto histórico mundial – II Revolução Industrial, surgimento e/ou fortalecimento do cientificismo (Determinismo e Evolucionismo) e de correntes filosóficas (Positivismo e Socialismo) – somam-se toda a campanha abolicionista já registrada no período anterior e a decadência da Monarquia Brasileira. Isso propicia terreno fértil para os escritores um tanto urbanos e burgueses... É claro, toda definição para um período literário é sempre arriscada, e, tratando-se de um período no qual se encontra José Maria Machado de Assis, com o Realismo é ainda mais melindroso. Até porque Machado de Assis é, sem dúvida, mais criador que criatura em relação ao Movimento. Então, basta ver as características estético-literárias de Machado para se encontrar as do Realismo. Estética que está intrinsecamente ligada ao pensamento do homem da virada do Século XIX para o XX: objetivismo, universalismo, materialismo, antimonarquismo, nacionalismo, determinismo etc.; mas com a genialidade do Bruxo. Enfim, o Realismo foi um movimento social, e como tal, um movimento do cotidiano.



O derradeiro de um apólogo
Então, quando a senhora voltou para casa, desfez-se do lindo vestido sobre a cama, enquanto encobria-se pelo senhor, em luxo e fúria. Este, famigerado verdadeiro dono daquela trama de linhas que encobria tão belo e jovem corpo durante a noite perante às luzes e aos olhares purgatórios, fez vir novo vestido, ainda mais trabalhado e elitizado.
- Você acreditou mesmo que era importante?
- E por que não seria? Não fui ao baile vestindo a senhora?
- E agora me dá lugar no guarda-roupas. O seu destino? Seguir a ordem alfabética descendente que que marca a quase todos? Talvez, pior! Vestir aquela que o ergueu. Servi àquela que seus caminhos abriu...
- E o que te faz acreditar que seu destino será diferente?
- O limite? Qual mais terá poder esse senhor para fazer vir? Quem mais gastará com tal jovem já marcada pela promiscuidade de valores e entrega barata? Sou o que de mais bela ela pode ter; o mais rico que ele pode dar.
- Mas, desfia-se como o mais rústico de algodão.
O dilema que não cessara foi interrompido. O derradeiro vestido, antes vencedor sobre aquela agulha, agora era dado à genitora de ambos: este e aquela.
Ao ver o motivo de sua revolta socialista, a agulha indagou:
- Pois vejo que não agradou por muito tempo e logo voltou, agora sem a mesma serventia.
- Vejo também que triunfo ainda assim sobre ti. Ou não sabes quem irá corrigir-me e preparar-me a outros bailes; mesmo que de menor valência?
A agulha bem que esbravejou e insultou. Mais que uma verdade, aquele derradeiro vestido tinha ainda poder, ele simplesmente nasceu com tal.
Quando voltei para dar o fim ao apólogo aquele mesmo professor, ele me disse:
- Todos os dias encontro com linhas que não valem um agulha. Mas, ainda assim, sobrepõem a estas com facilidade e normalidade.